De matemática a suinocultura: Ensino Médio Técnico abre portas para jovens em zonas rurais

A qualificação profissional pode beneficiar tanto o agricultor familiar quanto o grande produtor de commodities. Capacitar jovens em comunidades rurais, portanto, pode proporcionar maior disponibilidade de assistência técnica nas propriedades rurais. Promover esta capacitação é o que acontece na Casa Familiar Rural de Presidente Tancredo Neves (CFR-PTN), na Bahia.

A CFR, como é apelidada, oferta gratuitamente o Curso Técnico em Agropecuária integrado ao Ensino Médio para filhos de agricultores familiares. Assim, através do projeto de Formação de Jovens Empresários Rurais da Agricultura Familiar, adolescentes de 14 a 18 anos podem cursar a grade comum curricular em conjunto com o técnico em agropecuária.

“A passagem desse jovem abre muitas portas para as famílias, uma vez que essas informações disponibilizadas visam transformar socialmente e economicamente esses jovens. Além disso, conhecimento contribui para mantê-los no campo, ter uma alimentação saudável e regular, com qualidade de vida melhor”, conta Ivanete de Jesus Santos.

Ela mesma é um exemplo. Foi aluna do projeto de 2005 a 2008. Em 2009, entrou na faculdade de Agronomia e, depois de se formar, em 2015, tornou-se professora do curso da Casa Familiar Rural. “Eu não sei o que seria de mim sem esse curso, sem a profissão que tenho”, conta, orgulhosa.

Além do aprendizado técnico, Ivanete ressalta a importante função social deste tipo de projeto, que contribui com a diminuição das taxas de gravidez na adolescência e do êxodo rural. “Desde que a iniciativa existe, dá para perceber o quanto a zona rural tem melhorado a partir da educação, casas bonitas, com internet, energia elétrica e cimentadas”, descreve a professora.

Ela explica que a grade horária é alternada, com aulas em sala e no campo. “Então, eles aprendem de matemática até, por exemplo, aula prática de suinocultura, com orientação de zootecnistas”, diz. Também há instrução sobre manejo para melhor uso dos insumos, aumento de produtividade por área, negociação e comercialização.

Projeto venceu Movimento LED

Foi por apresentar tanto impacto social positivo que o projeto de formação de jovens da agricultura familiar foi o vencedor do Movimento LED – Luz na Educação. A iniciativa da Globo e Fundação Roberto Marinho tem o propósito de iluminar práticas inovadoras na educação brasileira.

De acordo com os responsáveis, o edital que resultou na escolha do projeto vencedor foi feito junto com uma empresa especializada em impacto ambiental e uma consultoria. A ideia era olhar dentro e fora da sala de aula, e além dos muros da escola, abarcando todo o universo de educação. Com base nesse conceito, chegou-se a um formato que contemplava educação básica (como sala de aula), técnica e o terceiro viés de ensino não-formal.

“A gente tinha três critérios norteadores, como a transformação local com o número e qualidade de pessoas impactadas, o quanto a iniciativa resolve um problema em determinada localidade, como a realidade rural, e o terceiro é a escala que os projetos podem ser ampliado e virar uma metodologia”, explica Viridiana Bertolini, gerente de Valor Social da Globo, ao dizer que o projeto em Tancredo Neves (BA) atendeu a todos os requisitos.

Em sua avaliação, causas como a educação em zonas rurais promovem incremento da economia local e contribuem para combater a desigualdade. Não por acaso, o projeto da CFR foi escolhido entre 3.500 inscritos.

“Com estes exemplos práticos de ensino valorizando os saberes locais, conseguimos endereçar a nova pauta do Ensino Médio como jornada educacional, com a realidade em que o aluno está inserido. O envolvimento é direto, como no caso das aulas de agricultura, pois ele sabe a necessidade do aprendizado que tem, está consciente da mudança que pode provocar”, afirma.

Fonte: Globo Rural

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